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Heitor Mazzoco

Jornalista


Estações

Por: Heitor Mazzoco
01/10/2019 às 10:47
Heitor Mazzoco

Descobri que o único primo que tenho por parte de mãe começou a expor o mau humor da idade. Ele parou há alguns anos na "estação cinquentenária”. Meio século se foi. 

Com cabelo grisalho, gosta de apostar nos jogos de loteria e assistir partidas de futebol pela TV. Ele também gosta de acompanhar, via TV, expedições norte-americanas em busca de ouro. "Deveria ter feito isso quando era mais novo, mas só sabia beber”, diz o arrependido. 

Às vezes, encontramo-nos num banquinho conhecido por dar assento aos velhinhos da cidade para um banho de sol. Essa é a rotina de meu primo. Uma rotina que talvez queira para mim quando chegar na mesma estação. 

A única situação que tentarei evitar é a briga pausada. Há alguns dias, num supermercado da zona oeste de São Paulo, presenciei a briga pausada. 

Explico: Num dia desses que pensamos que nada de extraordinário vai acontecer, saí de casa e fui ao supermercado comprar algo para beber. 

Entrei pelo estacionamento e lá estavam dois senhores com aparência sexagenária. Um queria entrar, o outro sair. Ficaram frente a frente feitos romanos diante do inimigo. Atrás dos dois, filas de carros se formavam. 

Atravessei o estacionamento e entrei no supermercado. Peguei os produtos que precisava (sucos, que fique claro). Fui para fila do caixa, cumprimentei a funcionária, paguei, coloquei as garrafas na sacola e voltei pelo mesmo caminho. 

Ao chegar próximo do portão superior do estacionamento, lá estavam os dois sexagenários. O segurança do supermercado, coitado, próximo de um ataque cardíaco. "Nossa Senhora. Olha o tamanho das filas”, disse como se estivesse diante do apocalipse. 

Cada um dos velhos estava dentro de seu carro. Olhares fixos um para o outro. Mãos no volante como se estivessem próximos de uma disputa no estilo Senna e Prost que, claro, terminaria numa batida. 

O segurança tentava convencer a cada instante um dos dois a dar uma simples ré. Nada! Passou uma hora e a polícia teve que intervir. Resultado: todo mundo para delegacia e trânsito livre. 

Naquele instante, como observador, ganhei o dia. Veio-me a frase de José Saramago em mente. "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. Mal posso esperar pela minha vez de descer numa dessas estações. 






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