Muito se discute sobre a formação de novos motoristas, aqueles que vão conquistar sua primeira CNH. Sim, ter uma CNH é uma conquista.
Sim, ter uma CNH é
uma conquista. É na condução de um
veículo diariamente, aplicando os fundamentos que se aprendeu durante as aulas
no processo de formação que vai se condicionando à rotina do trânsito e que
gera a prática, a perícia, a habilidade para saber tomar decisões seguras no
trânsito. Mas, para isso, é necessário que os fundamentos para dirigir tenham
sido construídos de forma significativa e preventiva para o futuro condutor.
Adestramento não é aprendizagem, é condicionamento. O adestramento reproduz
formas equivocadas de ensinar, como a "tremidinha”, as marcações coloridas no
veículo, as receitas prontas de baliza e as tais contagens de voltinhas no
volante, "estratégias” que não contribuem para a aprendizagem do ato de
dirigir. Se antes não se resolver a questão pedagógica da formação de
instrutores e de condutores com seriedade continuarão adestrando e não
ensinando na condução de um veículo.
Em tempo, tremidinha
é o ponto mais alto da embreagem, o ponto em que o carro "avisa que vai
morrer”, o aluno levanta o pé da embreagem e o carro dispara sem controle. As
contagens de voltinhas no volante é quando o candidato não constrói a relação
entre movimento de voltas completas no volante, posição das rodas e de partes
do veículo e muitos, diante do nervosismo típico do momento, se perde nas
contagens das tais voltinhas e mesmo tendo mais duas chances para tentar
consertar a manobra da baliza geralmente não consegue porque não aprendeu,
apenas memorizou, foi adestrado.
O modo como os alunos
dirigem diz muito sobre o modo como seus instrutores os ensinam, diz muito
sobre o modo como os instrutores foram formados, e diz muito sobre a seriedade
como o país trata e faz o processo de formação. Não podemos fechar os olhos
para o fato de que todos somos responsáveis por milhares de mortes e sequelados
no trânsito brasileiro, nem entre a enorme diferença do motorista que o
trânsito brasileiro espera e o motorista que chega às ruas precisa ser
superado. A sociedade precisa ser protegida, é preciso superar a má qualidade
do processo de formação de condutor e o flagrante despreparo de nossos
motoristas passa por uma remodelação da metodologia utilizada, reconhecidamente
obsoleta.
A educação para o
trânsito é uma das formas de combater essas síndromes introduzidas pelos
motoristas ao longo do tempo, e ela não se ensina, mas se pratica com ações e
reflexões acerca da realidade do cotidiano. É necessária uma educação na
escola, desde o ensino fundamental, para que o contato com a realidade do
trânsito seja praticado desde os anos iniciais do processo de formação do
aluno. As síndromes de trânsito são infrações que foram "ensinadas” para não
cometerem quando da obtenção da CNH, portanto o tema trânsito não deve ser
ensinado, nem tão pouco apreendido apenas através de regras e normas de
conduta, mas sim, com muitas reflexões e ações que promovam um ambiente mais
educado, mais ético e mais respeitoso. E isto serve para todos nós, os "novos”
e os "velhos” motoristas pois estamos sempre em constante formação.