Dom Pedro I também disse: Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.
Isso minha querida mãe, dona
Olga, mulher simples e amável, sempre me contava, no início de minha educação,
enquanto me ensinava sobre as datas comemorativas e, na matemática, a tabuada e
regra dos Noves fora, nada...
Era o 9 de janeiro de 1822,
quando o Príncipe Regente fora convocado por seu pai, o Rei de Portugal Dom
João VI, para retornar à Corte europeia, deixando ao Brasil novamente à
condição de colônia. Nesse dia, convencido pela elite econômica agrária
brasileira, se iniciaria um processo da independência, que seria proclamada no
amanhã comemorado 7 de setembro.
A independência veio e, em
1824, a Constituição do Império fazia de Dom Pedro o Imperador e Defensor
Perpétuo do Brasil, mas, pouco depois (1989), a República viria a
consolidar uma nova nação, sem espaços para o personalismo e o culto à
tradições, marcas indeléveis da monarquia que, com elas, justifica o
conservadorismo de seu modelo político, que na Idade Média tinha apoio na
chamada Teoria do Direito Divino dos Reis.
Parece-me que a beleza da
história é de sempre nos mostrar algumas verdades universais e atemporais da
natureza humana: na luta pelo poder, os comportamentos se repetem, geração após
geração.
Em 2020, outro que quase se
definia como Defensor Perpétuo se esperneou até o último momento para
permanecer no poder, fazendo-nos por em dúvida a própria consistência da
democracia moderna: Donald Trump.
Mas a estratégia de manipular
as massas pelas redes sociais não teve bom fim e, em 7 de novembro de 2020, o
Colégio Eleitoral disse não ao Dia do Fico do 45º Presidente dos Estados
Unidos, Donald John Trump.
O ano de 2021 tem sido tenso
também aqui no independente Brasil; o 7 de setembro que sempre foi cultuado
como data de civismo agora passa a ser referência de um dilema entre liberdade
e excessos, numa disputa entre um só homem e outros 11. A estabilidade está,
como nunca, instável; sob um aparente argumento (a liberdade) se escamoteia um
jogo de interesses (a reeleição), fazendo das ruas e da data histórica um mero
palco, onde as massas têm um papel semelhante ao dos figurantes na
cinematografia.
E esses figurantes também só
querem o que qualquer figurante quer: visibilidade efêmera e likes em
suas redes sociais; a questão maior é que nem todos são ingênuos figurantes,
mas aspirantes aos cargos eletivos que se avizinham para o esperado 2022.
Daí porque o foco, que revela
atenção de muitos, são as polícias militares, onde dizem que estaria expressiva
massa de bolsonaristas interessados em livremente manifestarem seu apoio
ao presidente, num aparente movimento espontâneo que, de espontâneo na verdade
não tem nada e mais se revela um novo Dia do Fico.
Falo aqui com a legitimidade
de quem ingressou na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, prestigiada
instituição de ensino superior da Polícia Militar do Estado de São Paulo, aos
17 anos (o ano era 1982) e que, de 2012 a 2014 compôs o Alto Comando da
corporação: não há risco à democracia
pelas vozes a atos dos policiais militares paulistas!
O que os cientistas-políticos
chamam de Bolsonarismo – ou Bolsonarismo Radical – não é nada expressivo
para além das ardentes redes sociais; esse movimento nasceu e somente angariou
adeptos de todos os setores da sociedade, porque levantou bandeiras contra o Lulopetismo
que se instalou no poder nacional em 2003 e ruiu com o Impeachment de Dilma Russeff
em 2016.
O Lulopetismo abriu as
portas para um modelo de establishment do politicamente correto em
matéria de costumes, que se infiltrou nas elites intelectuais, artísticas e de
comunicação social e que foi suportado por uma sociedade mais tradicionalista
que progressista; sua derrocada acabou por ocorrer e o grito de oposição se
legitimou com os escândalos de corrupção do governo petista e a condenação de
seu maior líder populista: Luís Inácio Lula da Silva.
Jair Messias Bolsonaro, um
político de menor grandeza no cenário da Câmara dos Deputados, seria o baluarte
desse antipetismo e, por sua origem de militar, ganhou sim – seria negar
a verdade dizer o contrário – a simpatia de boa parcela dos policiais
militares; seu apelo populista e pequenos agrados à categoria alimentaram esse
novo amor...
Estranhamente – e nada de
estranho na verdade existe nisso – o mesmo não acontece nas Forças
Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) e, bem por isso, às vésperas do 7 de
setembro de 2021, pouco se fala e nada se teme em relação aos militares
federais...
É daí por que repito: a
beleza da história é de sempre nos mostrar algumas verdades universais e atemporais
da natureza humana: na luta pelo poder, os comportamentos se repetem, geração
após geração.
Também no pós 1964 as polícias
militares foram usadas como massa de manobra pelas elites civis e militares
federais para a sustentação do poder; bem por essa razão, somente após anos de
trabalho na proteção da sociedade é que as polícias militares começaram a ver
ruir o preconceito de serem uma instituição de governos e não de Estado; foram
investimentos numa nova cultura de polícia comunitária, numa filosofia de
direitos humanos que permitiram um novo profissionalismo e uma nova imagem
institucional de nossas forças policiais.
Mas por qual motivo estaríamos
vendo a triste história se repetir?
Não é sem base que podemos
sondar como causas aquilo que alguns chamaram Efeito Bolsonaro,
referindo-se à quantidade de militares federais e estaduais, além de agentes
das forças de segurança que a onda Bolsonaro levou ao Congresso Nacional
em 2018 e às Câmaras Municipais e prefeituras em 2020, ainda que em menor
intensidade nestas últimas.
Surgem os oportunistas –
dentro do legítimo jogo político – que pretendem fazer voltar essa onda, para
surfarem nela em 2022 e, o 7 de setembro de 2021 poderá ser um palco ideal para
eles; ao lado deles, uma legião de boas pessoas, de bons princípios, que não
percebem – ou se percebem pouco se importam – esses parceiros de ocasião.
A regra do jogo democrático é
clara: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização; o 7 de setembro é uma data
histórica e uma homenagem ao civismo; nada disso nos permite apologia e
idolatria ao populismo e ignorar daquilo que a história nos ensinou.
Os governos passam; as
instituições de Estado ficam.
O Dia do Fico deve ser
um prelúdio de nossa Independência em relação à idolatria, porque um dia nos
fizemos República e, na República, não há espaço para mitos.