Como se diria no português coloquial: Cumé qui é?.
Somos uma nação que mais
parece se assemelhar àquelas sob tutela; a título histórico, jurídico e, aqui,
meramente lúdico e retórico, vale explicar que o chamado Sistema
Internacional de Tutela é um algo regrado pelo Direito Internacional,
especificamente nos artigos 75 a 85 da Carta das Nações Unidas, de 12 de
setembro de 1945, e ratificada pelo Brasil por força do Decreto nº 19.841, de
22 de outubro de 1945, que tem por objetivo amparar um processo de transição
para o atingimento da almejada soberania nacional, naqueles territórios – as então colônias – enquanto ainda considerados
incapazes de empreender diretamente sua administração autônoma, base de um
princípio maior, que é a autodeterminação dos povos.
Mas novamente, Cumé qui é?...
Todos sabemos que nossa
transição, da monarquia para a República em 1889, se deu por uma série de
fatores reais do poder – como diria o filósofo francês Ferdinand Lassale
– mas, certamente, não pela expressão do poder popular; também vimos, ao longo
dessa nossa história republicana, surgirem o populismo e as figuras míticas de Salvadores
da Pátria Amada, Brasil; assim vieram tantos.
Getúlio Vargas – o dono de uma
Era – que possivelmente se findaria com o primeiro processo de Impeachement
votado nessa nossa história, no dia 16 de junho de 1954, cuja Presidência não
chegaria ao fim, mas não por essa via, senão por conta de seu suicídio, em 23
de agosto de 1954, deixando-nos uma carta testamento em que dizia: Mais uma
vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se
desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e
não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha
ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente
os humildes.
Mais tarde, viria o Homem
da Vassourinha (Jânio Quadros) que, em 25 de agosto de 1961, renunciaria à
Presidência da República, deixando suas lamúrias numa carta que, entre tantas,
traria essas palavras: Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando,
nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses
gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do
exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e
me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
Com a abertura política, no
pós Revolução ou Ditadura (escolha-se o que soar mais verdadeiro), o plácido
mineirinho, ex-Ministro da Justiça de Getúlio, e um dos líderes das Diretas
Já de 1983, Tancredo Neves, é ironicamente eleito indiretamente pelo
Colégio Eleitoral de 15 de janeiro de 1985, adoece um dia antes da posse e
morre, em 21 de abril daquele ano, deixando a Presidência da República nas mãos
do maranhense José Sarney, legante da hiperinflação, do, que preparou os
caminhos para a eleição de nosso então Caçador de Marajás, o alagoano
Fernando Collor, ironicamente afastado do poder sob acusação de corrupção, em
conluio com seu tesoureiro de campanha PC Farias, não sem antes
sequestrar as cadernetas de poupança e contas bancárias dos brasileiros e
brasileiras (opa, Brasileiros e brasileiras era bordão do Sarney); PC
Farias já não está entre nós, mas Fernando Collor ainda habita o Congresso
Nacional, como nosso Senador da República, eleito democraticamente pelo povo
alagoano...
Surge, então, Itamar – o Homem
do Fusquinha – que de vice vira Presidente e, não havendo possibilidade
constitucional de reeleição, passa a Presidência para seu ex-Ministro da
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (o Homem do Plano Real), culto
sociólogo e professor de orientação marxista, outrora autoexilado na Cidade
Luz europeia e, mais tarde Deputado Constituinte, que somente deixaria o
poder, depois de desvalorizar a moeda, em troco de uma Emenda Constitucional nº
16, de 1997, que possibilitaria sua própria reeleição; logo em seguida, assume
o sindicalista Lula.
Lula, cinematograficamente O
Filho do Brasil, na esteira dos antecessores populistas, mas fundador da agremiação,
que de sindicato se transforma na única agremiação com identidade partidária no
país, mesmo sendo alvo de denúncias jamais confessadas, sobre um esquema de
corrupção chamado mensalão, se reelege e ainda a todos enebria, passando
o poder para a Ilustre Desconhecida Dilma Rousseff, reeleita apesar de
suas verborragias disléxicas, que estimulariam o mercado do anedotário
nacional, até que sofre Impeachement, depois de ver seu quase Ministro
da Casa Civil (olha o Lula aí de novo gente...) ser mais um dos tantos petistas
preso, também por corrupção, mas, agora, não uma corrupçãozinha, senão o
maior esquema de corrupção da história brasileira (até o momento...).
Cansado daquelas lideranças
pregadoras do politicamente correto e do politicamente corrupto, surge para
esse povo um novo Mito; um Messias que, mesmo não vindo de Nazaré, mas
de Glicério e cultivado na Câmara Municipal da Cidade Maravilhosa, que, como
se fosse um bom mineirinho, passa despercebidamente pelos donos do poder e é
eleito em 2018.
Por óbvio, nosso Messias não
teria o poder de seu xará – único capaz de aplacar a pandemia ou transformar
moléculas dispersas em imunizante ao seu povo escolhido – mas, ao modo
Dilma Rousseff, esse Mito se notabilizaria por um novo estilo verborrágico e
arrastaria multidões (talvez as mesmas que em 2013 foram às ruas brasileiras em
busca de um novo salvador), aliciaria um outro salvador – O Juiz da Lava Jato
– Sérgio Moro, que não tarda a perder a confiança, o cargo, o Ministério e a
fama, deixando num desquite que os filhos desacorçoados (Quem teria a guarda dos
fedelhos comuns? Ficariam com papai ou com mamãe? Afinal, quem teria traído
quem?).
Enquanto isso, no teatro da Jurisprudentia
Brasilis, um novo ato da mesma peça anunciava a liberdade e elegibilidade
reconquistadas pelo Filho do Brasil...
Agora Messias, profetiza: Ou
fazemos eleições limpas no Brasil, ou não teremos eleições.
Cumé qui é?...
Será que a obsessão populista contra
um sistema eleitoral eletrônico, desenvolvido pela empresa nacional OMNITECH
Serviços em Tecnologia e Marketing, entre 1995 e 1996, com a participação do
Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial e do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, fará do Mito Democrata romper com a Constituição da República ou
será mais uma das piadas de quem jamais se percebeu senão no palanque
eleitoral?
Fico a me perguntar: não
seria melhor, àquele que sempre se postou contra a reeleição, focar sua
artilharia nisso ao invés de disparar contra o voto eletrônico e a democracia,
ainda que uma democracia sob eterna tutela?
Vimos quando, por que e a que
preço, o Homem do Plano Real alterou a Constituição da República
Federativa do Brasil, para adotarmos essa excrescência, que é a possibilidade
de reeleição, um algo capaz de fazer um primeiro dia de um primeiro mandato se
transformar no primeiro dia de uma nova campanha, inevitavelmente marcada por
acordos e acertos, num comprometido presidencialismo de coalizão...
Cumé qui é? Será
que ouvimos e entendemos mal quando, na verdade, o profeta teria dito: Ou
fazemos eleições limpas no Brasil, ou não teremos REeleições.
Pátria amada, Brasil!