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Cacau Lopes

Médico e professor da Famerp


Covid-19: As aventuras do Barão de Münchausen

Por: Cacau Lopes
08/11/2020 às 11:29
Cacau Lopes

O prefeito, usando as mesmas artimanhas do Barão de Münchausen, quer nos convencer, através de propaganda enganosa nas TVs, que "estamos vencendo a guerra contra a COVID”

Münchausen, personagem de Rodolph Erich Raspe, nasceu em 1720, foi capitão de cavalaria e serviu num regimento russo em duas guerras turcas. Em seu livro infanto-juvenil, o autor narra como o seu astuto capitão escapava de enrascadas homéricas. Engolido por uma baleia, como Pinóquio, escapuliu num passe de mágica. 

Mas a sua peripécia mais espetaculosa foi quando, atolado num pântano com seu cavalo, vendo-se sozinho, agarrou seus próprios cabelos e, por meio deles, puxou-se para cima, saindo da lama junto com seu alazão preso às pernas. Michael Löwy compara este personagem de ficção com pensadores positivistas, que costumam trocar a interpretação da realidade por seus interesses particulares. Este é o papel da ideologia: inverter o real, interpretar os fatos humanos como se fossem coisas, números, buscando, desta maneira, nos impor uma objetividade ilusória.

Até o momento, 731 rio-pretenses morreram de COVID19. É como se 12 ônibus, com 59 estudantes, caíssem nas águas turvas do Turvo. Como as mortes são diárias, esta tragédia não comove tanto. Aqui, a morte foi banalizada. Para se ter uma ideia do tamanho da responsabilidade desta administração por este verdadeiro genocídio, Rio Preto, a Califórnia brasileira, é a segunda cidade do estado de São Paulo em que mais pessoas morreram por COVID19 por 100 mil habitantes, perdemos para Santos. 

Um cidadão rio-pretense tem chance de morrer de SRAG cinco vezes maior do que um morador de Araraquara. Aqui se morre mais de COVID do que todas as capitais do Nordeste. Se tivéssemos os mesmo Coeficiente de Mortalidade de Ribeirão Preto, entre julho a outubro, 269 vidas poderiam ter sido salvas. Não me consta que a população de Rio Preto seja mais ignorante ou menos cuidadosa que o povo destas cidades. 

A diferença está em como cada administração tratou a pandemia: umas priorizaram a vida, enquanto que aqui se deixou morrer por conta da imunidade de rebanho. Em 31/03/2020, o secretário de saúde, baseado em dados matemáticos, projetou que Rio Preto teria 25 mil casos e 95 mortes por COVID. Hoje, estamos com 26.787 casos e 731 mortes. Fenômenos humanos, senhor prefeito e secretário, se quisermos compreendê-los em suas delícias e sofrimentos, teremos que usar outras estéticas e outras éticas que os números não são capazes de captá-las.

O prefeito, usando as mesmas artimanhas do Barão de Münchausen, quer nos convencer, através de propaganda enganosa nas TVs, que "estamos vencendo a guerra contra a COVID”. Através de medidas mágicas de mini-lockdown, só vender bebidas quentes, ele levou a nossa cidade a maior tragédia sanitária já vivida. Que vitória é esta? Previa-se 95 mortes e já foram enterradas mais de 700 pessoas sem uma despedida digna.  

A nossa cidade está atolada na areia movediça do coronavírus há 8 meses. A Europa está aí para nos alertar com uma segunda onda mais avassaladora, quando nem saímos da primeira. Prefeito, não vamos sair desta "puxando o nosso próprio cabelo”. Basta de enganação! 

Médico, professor de saúde pública/FAMERP






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