Um unicórnio pra chamar de seu...

Beto Braga

Empresário da área de tecnologia e inovação

Por: Beto Braga

10/02/2020 às 08:17

Beto Braga

Por que Rio Preto, apesar de ter pessoas competentes, capazes, com vontade de empreender, não consegue construir nada realmente inovador?

Vamos lá!!!

Primeiro não adianta ir em palestra de empreendedorismo de coach quântico. Tão pouco palestras motivacionais de pessoas que contam como foram atrás de seus sonhos.

Vamos aos fatos!

O vale do silício é admirado até por quem não sabe a importância dele.

Explico. Aplicativos e empresas populares como google, facebook, paypal, Aplle, Microsoft e Tesla (só para citar algumas) nasceram e se desenvolveram lá.

O vale do silício oferece as melhores condições para o nascimento e desenvolvimento de startups e por isso tem o maior rebanho de unicórnios do mundo.

No Brasil por outro lado, o surgimento de unicórnios é tão raro quanto o nascimento de bebes pandas em cativeiro.

Por outro lado, alguns desavisados, gostam de citar o vale do silício e a posição de destaque dos americanos no sucesso do desenvolvimento de soluções inovadoras e no mercado tecnológico a iniciativa privada, com seus empreendedores e investidores de risco. Mas a verdade é outra.

Os EUA investem trilhões de dólares em uma política de inovação distribuída em diversos departamentos e agências governamentais.

O algoritmo de buscas do Google foi um projeto de pesquisas de doutorado financiado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA (NSF, na sigla em inglês).

A Apple, antes de abrir o capital, recebeu US$ 500 mil da Continental Illinois Venture Corp., fundo que participava do programa do governo americano de incentivo a pequenas empresas.

A assistente virtual Siri surgiu de um projeto financiado pelo Departamento de Defesa. A tecnologia de multitoque da FingerWorks, adquirida pela Apple em 2005, foi desenvolvida na Universidade de Delaware, com dinheiro da NSF e da CIA.

A União Européia, por sua vez, possui desde os anos 90 o RIS (Estratégia Regional de Inovação) que, como o nome diz, propõe uma forma única de desenvolver políticas regionais na área de inovação, onde não basta apenas a questão tecnológica, mas também cooperação entre os diversos clusters (grupos), que fazem parte do ecossistema, assim como um ambiente de negócios favorável.

Dessa forma a EU adota como premissas em sus estratégias de fomento a inovação a redefinição de estruturas e instrumentos políticos para a inovação, foco nas necessidades das empresas, basear-se em parcerias público-privadas, envolver os principais atores regionais, explorar redes de cooperação inter-regional, entre outras iniciativas.

Aqui entramos em uma questão relevante: a permeabilidade dos clusters.

Não é incomum que exista um comportamento egoísta de alguns grupos, preocupados em não perder lideranças e mercados construídos ao longo de décadas. Por conta disso alguns desses grupos que se sentem ameaçados boicotam iniciativas ou procuram controlar o processo estratégico.

Se faz fundamental a incorporação de um processo de aprendizagem entre os atores regionais, o que ajudaria a construir um consenso em torno da inovação como um fator-chave do crescimento e da competitividade regional

A Comissão Europeia indica 6 etapas para regiões projetarem estratégias consistentes de inovação regional:

1. Análise do contexto regional e enquadramento do potencial de inovação;

2. Estabelecer uma estrutura de governança sólida e inclusiva;

3. Produzir uma visão compartilhada sobre o futuro da região;

4. Selecione um número limitado de prioridades para o desenvolvimento regional;

5. Estabelecer combinações de políticas adequadas;

6. Integrar mecanismos de monitoramento e avaliação.

O desafio de Rio Preto é grande. A cidade não fez quase nada em termos de política de inovação.

Fica claro que insistir na pauta de que a iniciativa privada deve puxar a política de inovação regional mostra um completo desconhecimento do assunto e uma total alienação sobre o tema.

Se quisermos ter uma cidade que apresente ideias e soluções inovadoras é primordial que exista um compromisso com a inovação do poder municipal, de empresas e organizações, em torno de um plano de ação, de uma estrutura para tomada de decisões e na priorização dos recursos.

Ai, então, poderemos sonhar em ter um unicórnio pra chamar de nosso.

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