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Eder Galavoti

Delegado de polícia e professor da academia de Polícia Civil de São Paulo, lateral direito e corintiano


Caçando vagalumes

Por: Eder Galavoti
21/01/2020 às 10:45
Eder Galavoti

Nem começamos, mas já temos a doença do novo século: A nomofobia. Todo dia leio algo sobre este vício. Trata-se da dependência do uso do celular. 

Muito tempo atrás o inimigo era a televisão, depois o vídeo game, depois o computador e internet. Agora a luta ficou mais difícil, pois um simples tijolinho reúne tudo isso. Li sobre algumas condutas que auxiliam o tratamento da dependência e uma delas é deixar o aparelho com a tela na cor cinza. 

Segundo neurologistas, as luzes e cores são uma recompensa para o cérebro. Daí me veio uma lembrança para filosofar: Quando criança eu passava as férias no sítio dos meus avós. Lá, não havia energia elétrica e o banho era no "tiradentes” com água esquentada em baldes de latão de óleo de soja todos empretejados pelo fogão de lenha. 

Havia pouca iluminação, pois tudo era na base de lamparina de querosene e lampião de gás. Por estas razões, entretenimento durante a noite era prestar atenção nas histórias e conversas dos mais velhos ou ouvir um programa qualquer no rádio de pilha e no fim da noitada talvez um baralhinho. 

Entretanto, havia uma atividade extraordinária e marcante que praticávamos nas noites quentes e úmidas do verão. Adultos e crianças vestiam uniformes e se transformavam em caçadores da escuridão. As presas, contrariando lobisomens, gostavam de noites sem lua e surgiam reluzentes em bandos voadores. 

Era isso, a gente caçava vagalumes. Ganhava quem capturava o maior número de pirilampos. O principal equipamento para a empreitada era um bom chapéu de palha, de preferência com a aba bem larga. Quando surgiam aos montes, a gente corria atrás para derrubá-los na grama com uma chapelada certeira.

Capturados, eram colocados em potes de maionese para posterior contagem. Lembro-me também de uma espécime que valia  dez vezes mais no torneio. Tratava-se de um escaravelho com olhos verdes brilhantes que voava feito um torpedo.

Derrubar um desses era dificílimo e quando nas mãos estalavam feito traque de São João. Um troféu sem dúvida. Mas ganhar a competição nunca importou. O grande momento era a soltura dos bichinhos, onde cada um criava a sua nuvem de lâmpadas. 

Com a chegada da energia, nada mudou. Em noites quentes, lá estávamos nós, caçando vagalumes e assim foi por muito tempo. A televisão ali presente nunca ameaçou nossas caçadas. Dia desses pensei em resgatar a brincadeira com sobrinhos a fim de mudar o foco digital deles, mas não havia dado conta de que os vagalumes sumiram dos nossos campos. 

A presença de pirilampos é bioindicador da qualidade da água. Monocultura e inseticidas também são grandes inimigos. Uma pena. Dessas lembranças, acabei concordando que luzes e cores realmente são uma recompensa para o cérebro, mas se forem obra de pirilampos  a recompensa é para a alma. 






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