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Angélica Zignani

Diretora artística e de elenco da Cia dos Pés e ativista cultural


A idade e a identidade

Por: Angélica Zignani
24/12/2019 às 09:51
Angélica Zignani

Acredita-se que foi no século XVIII que os párocos passaram a manter o rigor de uma contabilidade abstrata em seus registros. 

Nossos registros de existência passaram por nossos nomes, que eram desejos e sonhos de nossos pais, por nossa tradição carregada pelo sobrenome e chega em nossos números. 

A importância pessoal da noção de idade deve ter-se afirmado à medida que os reformadores religiosos e civis a impuseram nos documentos. 

Esse gosto pela inscrição cronológica, embora tenha subsistido até meados do século XIX, nos retratos, objetos e até mobílias, desapareceu rapidamente, a partir de meados do século XVII. 

Apesar dessa importância que a idade adquiriu na epigrafia familiar no século XVI, subsistiram nos costumes, curiosos resquícios do tempo em que era raro e difícil uma pessoa lembra-se de sua idade. 

Sancho Pança não sabia exatamente a idade de sua filha, a quem, entretanto amava muito: "Ela pode ter 15 anos, ou dois anos a mais ou a menos. Mas é alta como uma lança e fresca como uma manhã de abril...

Para que pudéssemos nos compreender em nossa existência biológica e compreender a relação com as dúvidas sobrenaturais passamos a contar períodos e registrar o indivíduo através de suas datas. 

Reconhecendo a importância dos registros como fonte de estudo e compreensão do ser humano, valido a idade como um termo importante. No entanto vivendo esses prazos que modernamente estabelecemos destaco a precisão de alguns argumentos e me provoco a esquecer tantas determinações. 

Com tantos números regendo nossos ritmos, tais elementos abstratos ganham mais importância que a poética existência de um cair da tarde. 

Como é sentido o tempo sem o bater ritmado do ponteiro e livre do compromisso do amanhã?

Já não sei relatar, mas me convido a tentar, pois já nos doamos a tantas teorias e estudos que merecemos a plenitude de apenas estar. 

O que dizer dos anos que por mim se debruçaram? Digo que não os contei pois meu defeito está nos números, mas as imagens poéticas que deles guardei, receitam sentimentos e sensações que número algum consegue representar.






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