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Alaor Ignácio

Jornalista, publicitário e escritor.


Egos inflados

Por: Alaor Ignácio
17/11/2019 às 10:37
Alaor Ignácio

A safra de egocêntricos, provavelmente, ainda não quebrou seu recorde. Crescerá, na mesma proporção dos nascimentos. Cisma minha, sei lá, cheia de evidências. Percebo os sinais quando o sujeito não chega a escutar direito aquilo que tentamos lhe dizer. Num átimo, nos interrompe. Passa a falar de si, ou de uma experiência similar àquela que haveríamos de contar-lhe, porém aumentada à razão da gravidade ou da largura. Largura, sim, porque egocêntrico ocupa todos os espaços laterais, sem perder o foco nele próprio.

A disponibilidade do espírito humano parece que se encurta a olhos vistos. Mas confesso que não sei se é um fenômeno social ou pessoal. Há verossímeis argumentos para qualquer das duas opções.

Pela ótica social, já cansamos de ler artigos, crônicas ou ouvir comentários acerca dos personagens de si mesmos criados pelas redes sociais virtuais. No Instagram, chega a ser escandaloso (ou "escan-doloso”, para não perder a mão dos trocadilhos): "agora eu estou atravessando a ponte. Está muito legal”, escreve o Antoninho, que passeia por San Francisco. "Essa balada está um inferno! Boa demaissss”, tecla Suzinha, diretamente da boate Purgatóriuns. O leitor, no leito de sua solidão e egocentricamente louco para contar também que a cama está muito quente, porque faz calor em Guapiaçu, se lixa por saber se existe ou não alguma ponte para o inferno.

Na sofisticação já tomada por "certa idade” do Facebook, a coisa apresenta um ar mais dissimulado. Extrai dos ineptos certa vocação jornalística, publicitária ou de profissional de relações públicas. Com o propósito de contar aos amigos as próprias vantagens, feitos e realizações por demais superiores àquelas dos outros, o sujeito (ou a "sujeita”) lança as suas intimidades, entre as quais as tais necessidades fisiológicas, juntamente com aqueles besteróizinhos "sacados-cabeças-imperdíveis” numa quantidade suficiente para entupir as páginas dos amigos e provocar uma diarréia virtual no sistema todo. Antes, e em si, já lembra uma flatulência, que percebemos menos pelo estrago do que pelo cheiro.

Aí surgem os palermas solitários, suscetíveis a amores que não dispõem, um propósito que nunca tiveram ou uma ação que jamais praticaram. Egocêntrico manso, poderia defini-lo Sigmund. O bom exemplo é o do sujeito que "reencontra pelo Face” aquela paixão que existiu mas não vingou na adolescência, e começa a achar que seu futuro teria sido diferente desse – esquecendo-se, por egocentrismo, que os arrependimentos não são necessariamente recíprocos. Bom, mais já margeamos a ótica pessoal dos egocêntricos.

Sim, eles são piores presencialmente, admitamos. Atingem a falta de educação. Experimente contar a um desses que o seu (seu mesmo) estômago está um pouco indisposto porque... Pronto! Ele o interrompe: - Eu tenho um problema de estômago há dez anos, que os médicos não conseguem descobrir o que é. Veja você que... Sim, só sobrará a você, leitor, a indigestão.






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